As danças e cantares eram executados nos bailes realizados aquando dos serões da descasca do milho ou na preparação da lã, matanças de porco e nas festas dos padroeiros.
As músicas apareceram no grupo através duma recolha exaustiva dos elementos da direcção que consultaram livros antigos, gravações e pesquisas feitas por António Maria Gonçalves, Jacob Tomás e José Arlindo Trigueiro, bem como o suporte de algumas pessoas muito antigas a quem pedimos que nos ensinassem as coreografias usadas na época. Só assim conseguimos um trabalho o mais genuíno possível, como representam bem as danças e os cantares do nosso grupo.
O grupo é composto por pares que representam as diversas actividades em traje de trabalho e com destaque para outros pares em traje domingueiro.
Procurou-se através da diversidade dos seus elementos retratar as vivências do nosso povo em dois séculos de histórias desta ilha. O traje mais recente representa a década de 60 e o mais antigo de 1890.
Cerca de 80% do vestuário e adereços é composto por peças verdadeiras recolhidas após pesquisa exaustiva efectuada e hoje são um património de grande valor da Associação Cultural Lajense.
Dada a multiplicidade não nos é fácil a sua descrição muito sumária, pelo que escolhemos alguns elementos que poderão melhor caracterizar a indumentária do grupo.
ELA:
Saia de "baetão" tingida "cor de vinho" franzida na cintura por cós de cotim que prende em "arca" a um botão de osso.
Blusa - Casaco de cotim ou chita cortada na cintura que abre em aba e sem punhos. Lenço escuro de lã e xaile de cor avivado com riscas da mesma cor em tom mais escuro.
Leva cesto de vimes trabalhado, (cestaria da Ilha), onde se guarda a lã já aberta para ser cardada.
Sapato escuro de pele atado sobre o pé.
ELE:
Calça de cotim escuro seguro por suspensórios vindos no inicio do século da América.
Camisa de riscado.
Mala e pano com lanche e às costas a enxada.
ELA:
Saia de "baetão", blusa de cotim, lenço de lã e xaile.
Leva na mão uma lanterna que a iluminava a caminho das "novenas", ao pescoço trás o terço.
ELE:
Calça de cotim remendada, camisa de cotim, casaca de "baetão", chapéu de palha, nos pés calça os "tamancos".
Ao ombro trás o pau do leite com as latas que eram feitas na ilha. Na mão a bengala de pau.
ELA: Saia de "baetão" castanho tecida de lã de ovelha daquela cor. Blusa de linho de corte simples que fecha no dorso por molas metálicas ou dois pequenos botões de osso. Lenço de lã cor de canela, posto em calafate amarrado na nuca. Meias de lã natural em botas de couro verdadeiro atacadas com atilhos desse cabedal. Saiote interior a aparecer por debaixo da saia, feito em lã de ovelha branca nas agulhas. Xaile de cor com cadilhos simples.
ELE: Calça escura de cotim ou alpaca. Camisola de lã feita em tricô. Jaqueta de lã tecida nos teares da ilha feita em duas cores e em espinha de "Tweed". O corte de casaco tem influencia americana no seu corte já das "Levis Straus" dos rancheiros dos finais do Séc. XIX, da Califórnia. Traz numa das mãos a "tarquinho" para malhar e ripar o linho que traz de "braçado". Descalço, como os pobres de então.
ELE: Jardineiras vindas nas "encomendas" dos parentes emigrados na Califórnia com camisa branca de "paninho"'. Lenço de assoar de cor que sai pela algibeira. Casaco de "baetão" castanho natural, em feitio de jaqueta. Boné escuro de pala curta. O guarda - sol, que era usado para a missa, a passeio ou sempre que se deslocava a outra localidade, dá um ar domingueiro ao traje que no caso de ser mais usado era o mesmo para o trabalho.
ELA: Vestido de chita com peitilho de marinho azul escuro debruado a renda simples feita na "farpa". Lenço de chita colocado à "ceifeira" debaixo do grande abeiro em palha de trigo que resguardava o sol. Descalça leva ao quadril a "selha" de madeira com a roupa que irá lavar na ribeira ou as tripas do porco no dia da matança.
ELA: Saia de chita e blusa - casaco de cotim, lenço amarrado por debaixo do queixo, nos pés as galochas. Leva na mão a moenda de milho,
ELE: Calça e camisa de cotim. Blusão de lã de ovelha castanha, boina na cabeça, nos pés os "tamancos". Nas mãos leva o trigo e o garfo.
Nas Flores e devido ao constante contacto e proximidade com o mar fonte e complemento de subsistência alimentar o homem pobre era simultaneamente camponês e pescador.
O pescador acumulava a dupla tarefa de homem que ia à pesca, à caça e à baleia, cachalote.
ELE: Vestia calça de cotim, camisa fechada de riscado e nos pés quando não eram descalços (quase sempre) usava as "albercatas", compostas de uma sola direita e apenas com uma tira por cima do pé e amarradas atrás com atilhos de cabedal. Na cabeça usava no verão e quase sempre o chapéu de palha. Traz a cesta de vimes para o peixe miúdo, a rede com " adriça" a mala de remendos com o farnel,
ELA: A camponesa que vai a fonte; traje de trabalho pobre. Descalça com a "caneca" de madeira arcada a latão, era do chafariz que a mulher dona de casa tirava água para comer, para lavar a casa, etc. Vestia vestido direito de chita estampada e avental de riscado feito das sobras das camisas do homem da casa. O chapéu "abeiro" era complemento da roupa diária de trabalho.
ELA: Saia roxa de "baetão" às pregas, debruada com o mesmo tecido em preto. Blusa de estamanha em cor crua, lenço de lã bordado a seda amarrado em triângulo junto ao pescoço por debaixo do queixo. Xaile de lã cor de abóbora bordado a seda dobrado em rectângulo sobre os ombros. Mala com pegas de madeira trabalhada, que é feita de retalhos ponteados a ponto de cruz de várias cores. Sapatos escuros de pele de cabra.
ELE: Calça larga de cotim listado cinza escuro. Camisa - casaco em cotim azul marinho abotoada com botões de osso (Influencia militar). Boina de lã colocada em jeito de bivaque. Descalço. Leva na mão a viola da terra.
ELA: Saia de panino ou lã de cores por vezes vivas cortada ao viés e com pregas na cintura comprida pelo "artelho". Casaco acintado e com cortes variados formando sempre aba sobre as nádegas para realce da cintura. Fechado junto ao pescoço com molas. Nesta peça de cores bem variadas e em tecidos de melhor qualidade, aparecem os entremeios de veludo ou damasco. Na cabeça o chapéu "caqueiro" de tecido ou a mantilha arrendada cor-de-trigo. Por vezes as mãos cobertas por luvas feitas de lã fina nas cinco agulhas e quase sempre a "sombrinha" adereço imprescindível de resguardo do sol pelo caminho e como complemento da elegância feminina. Sapato escuro bem fechado de salto baixo atacado e meias opacas de algodão.
Casal marcado pelo luto, muito frequente em famílias numerosas, e onde o respeito pelos familiares se fazia sentir até às gerações mais afastadas.
ELA: Representando a viúva mais idosa traja completamente de negro com saia comprida às pregas (de lã) com casaco preto fechado. Por cima deste, o xaile de ponta em triângulo {sinal de luto) e com o lenço fechado na face apertado debaixo do maxilar. Trás na mão mala de pano preto do tecido da saia onde guarda o lenço, a "poceta" do rapé e o terço que até pelo caminho "debulha". Óculos graduados com o feitio redondo, luxo que só algumas senhoras mais afortunadas possuíam e que por vezes herdavam, tal como herdavam a "miopia".
ELE: Lavrador pobre, calça de lã em cor de avelã e casaco de baetão tecido no tear com a lã misturada da ovelha branca e da ovelha escura. Camisa de sarja preta. Faixa negra na manga esquerda do casaco a indicar o luto. Chapéu de palhinha de influência "madeirense" de aba curta e baixo. Sapatos.
ELA: Vestia de seda adamascada comprido fechado até ao pescoço com pregas no peito e que fecha com "broche" de prata cinzelada em feitio de concha. Chapéu de crina de aba larga feito por uma chapeleira da época. Brincos de "coralinas" "cor de mel" encrustradas em ouro batido. Saco de pano acetinado bordado a "cheio" em forma de alforge onde se recolhem os utensílios femininos (lenço, terço, missal, etc). Sapato em forma de bota preta amarrada com cordões pelo tornozelo.
ELE: Fato preto em "elascontim" com colete interior. Camisa de linho branco com bicos subidos onde assenta a gravata em feitio de "pappilhon" que por sua vez leva no meio a alfinete de ouro ou "latão dourado" muitas vezes com nomograma de quem o usa. Chapéu preto de feltro com fita acetinada. Bengala de madeira exótica com pega de metal, e também abrasonada.
Traje domingueiro de casal abastado com pormenor da sobrecapa «que uma peça verdadeira de meados do Séc. XIX de grande estilo.
Figuras de relevo na freguesia e de grande admiração por todo o povo, mereceram como grupo etnográfico uma representação que enquadramos no traje domingueiro das pessoas de destaque.
Destacamos o medalhão que ela leva ao peito, o casaco de corte sofisticado e o penteado de "açafate".